4º dia de Paredes de Coura – A reportagem
A portuguesa Sequin, Ana Miró de seu nome, abriu o palco FM com a sua pop delico-doce apoiada nos sintetizadores, acompanhada por um baixo e um outro teclista. Muito aplaudida pelo público que, embora escasso, foi bastante entusiasta, Sequin desfiou o seu álbum de estreia, “Penelope”, na totalidade, para embalar os festivaleiros de um último dia que se previa mais calmo que os anteriores.
A abrir o palco principal esteve a mistura inóspita mas muito funcional dos Sensible Soccers. A dualidade das guitarras com os samplers e electrónica faz um som etéreo e hipnótico, adequado à hora do pôr do sol, e se começaram poucos os ouvintes, a assistência aumentou até mais de metade do espaço, e o entusiasmo dos festivaleiros pela banda foi também aumentando de intensidade. A sonoridade talvez se adeqúe mais a um lounge ou sala fechada, mas foi a banda sonora perfeita para o final da tarde no auditório do Tabuão.
Os The Dodos são um interessante duo, de rock aguerrido, que agradou aos presentes num palco secundário já bem composto. Apenas uma guitarra e uma bateria, muito a exemplo dos White Stripes, mas num estilo bem diferente dos manos White, mais eléctrico, rápido, cru até. As massas aproveitaram a deixa, aplaudiram e pularam sem descanso, num concerto que apenas pecou por escasso.
A aparição de Kurt Vile and The Violators fez-se já com mais de metade do auditório principal a ouvir o rock/pop psicadélico do americano, transformado para uma toada mais pesada, mais eléctrica, não lhe ficando muito bem a deriva, em comparação com o som registado em estúdio e no concerto que deu há três anos, no palco secundário deste mesmo festival. Foi aumentando a intensidade durante a actuação, mas acabou a perder gás e alguma assistência, que preferiu as sonoridades blues do palco secundário.
Foi a vez de Hamilton Leithouser embalar para um concerto interessante, num som que ao inicio se confundia com o de Kurt Vile, que ainda actuava quando Leithouser começou o seu espectáculo no palco secundário. Rock a cair para o pop, misturado com uma pitada de blues, e uma voz de Sinatra dos tempos modernos, acompanhado por vezes da guitarra acústica. Uma óptima companhia para o jantar, mas que gostaríamos de ver numa sala mais intimista.
Os The Growlers vieram a Paredes de Coura terminar a sua tour europeia, e era de algum modo visível o cansaço no grupo americano. Bem disposto, o vocalista foi bastante comunicativo, convidou dois festivaleiros disfarçados de crocodilo a subir ao palco, e cantou com eles, para eles, deitado em cima deles, e finalmente, exortou-os a lançarem-se para a multidão, o que eles não tardaram em fazer. Um concerto em tom de festa, mas sem exuberâncias, que o som não era o mais apropriado para grandes feitos. Bom concerto, a fechar a volta do grupo pelo velho continente com chave de ouro.
Os Goat fizeram-se ao palco Vodafone.FM com a determinação, que até agora parecia faltar, de pôr toda a gente a pular e a dançar. E com o seu som tribal-psicadélico, conseguiram-no e de que maneira. O espaço do palco tornou-se pequeno para a multidão que chegou em hordas do palco principal, esquecendo-se até de guardar lugar para o cabeça de cartaz. Eléctricos, com a percussão em destaque, e ajudados pelo guarda-roupa e videografia, fizeram explodir a vontade, até ali reprimida, de pular da massa festivaleira. Até ali, o concerto do dia.
E entram em cena os muito aguardados Beirut, e tudo muda de repente. Os festivaleiros ficam cativos da mistura de indie pop e etnie da banda de Zach Condon. O som dos metais ecoa nas palmas da plateia, que ondula conforme a batida mais ou menos pulsada dos temas. Santa Fé, tema e cidade natal de Zach põe toda a gente a cantar em coro, e o desfiar das músicas mais ou menos reconhecíveis é interrompido por um piscar de olhos à lusofonia, com Leãozinho de Caetano Veloso. Muito aplaudidos por toda a actuação, fica uma vontade de encore que o adiantado da hora não deixou concretizar. Em resumo, foi muito bom, e pedia-se mais.
Para encerrar o palco principal desta edição de 2014 do Paredes de Coura, aquilo que desde o anúncio nos pareceu ser um erro de casting. James Blake, apesar do concerto muito competente e inspirado, não era em definitivo o que os festivaleiros quereriam. Num esperado tom intimista e romântico, a meio começou a puxar pelas sonoridades mais mexidas, mas foi por pouco tempo, e já era demasiado tarde. Apesar do auditório estar completamente cheio ao início da actuação, boa parte da assistência não aguentou o frio e a toada calma do cantor, e recolheu ao campismo ou a outras actividades que aquecessem o corpo e a alma. E foi pena, porque ainda momentos antes a organização divulgou que o dia tinha esgotado completamente.
Mas o famigerado James não teve descanso. Minutos depois de terminar a sua actuação no palco principal, eis que começam as hostilidades no palco Vodafone.FM, com o mesmo James Blake a integrar o colectivo de DJs 1-800-Dinosaur. Muita batida, muita electrónica, muitos drops, para cerca de dois terços do espaço cheio de resistentes ao frio e ao cansaço de quatro muito bons dias de festival.
Chegamos ao final da edição deste ano do mítico Paredes de Coura, e a organização apressou-se a reservar os dias 19 a 22 de Agosto de 2015 para a próxima edição, e a frisar que hoje foi o dia mais concorrido, tendo esgotado completamente o espaço do festival, que comporta 28 mil pessoas. Até para o ano, então, Paredes de Coura!
Fotos oficiais do Vodafone Paredes de Coura por Hugo Lima