3º dia de Paredes de Coura – A reportagem
O duo Buke & Gase foram os protagonistas das Vodafone Music Sessions, desta vez num campo de futebol abandonado a alguns quilómetros de Paredes de Coura. Construtores dos seus próprios instrumentos, fazem uma pop de bom tom e com um indelével sabor a verão quente, como o dia e hora a que se apresentaram. A recordar pelos sortudos presentes, sem dúvida.
Pouco depois, nas margens do Taboão, os Torto apresentaram-se no palco Jazz na Relva. Com muita assistência, embora os festivaleiros estivessem ali mais pela praia que pelo som, arrancaram ainda assim muitos aplausos. As suas cúmplices improvisações formaram um todo em que se percebe bem a sincronia entre os três elementos da banda, de tal forma que não se percebe bem quem começa ou acaba, quem guia ou quem segue. A banda, essa, é para seguir.
Os barcelenses Killimanjaro abriram ontem o palco principal com o seu stoner rock de voz rouca e riffs furiosos. Embora com a assistência ainda a chegar, fruto do bom tempo e da óptima praia que se faz nas margens do Tabõao, conseguiram boa resposta por parte de quem assistia, com umas pontuais sessões de mosh, a dar a perceber que é de electricidade que o povo gosta.
No palco Vodafone.FM, pouco depois, de novo Buke & Gase a dar o seu som enigmático a uma plateia que pecou por escassa, mas não menos interessada. Os instrumentos do duo voltaram a chamar as atenções, e o som que conseguem retirar deles, sem uso de electrónica, absolutamente espantoso. Um pop adocicado, mas de inegável beleza, que tem tudo o que precisa para resultar. E resulta!
Linda Martini, Linda Martini, Linda Martini! Mas que grande concerto dos portugueses, que vieram a Paredes de Coura mostrar (como se fosse ainda preciso) que tem lugar numa hora mais tardia do cartaz. Começou algo apático, da parte do público, mas a banda não se intimidou e o baterista mostrou o que lhe ia na alma, pedindo mais entrega aos festivaleiros. E a partir dai foi o ver se te avias, com mosh, crowdsurf e o que mais houvesse para celebrar o rock rasgado dos lisboetas. Finalizariam com “100 metros sereia”, umas duas dezenas de festivaleiros em cima do palco, e todos os rapazes da banda em cima da audiência. Grandes!
Os Yuck entraram no palco secundário para mostrar o seu indie rock com saudades dos anos 90 e os festivaleiros corresponderam com muitos aplausos às suas canções. O espaço não encheu, muito por culpa da hora de jantar, mas ainda assim sentiu-se muito amor pelos riffs rock da banda americana. Menos conseguidas, as musicas do seu ultimo álbum, já sem o fundador Daniel Blumberg, não são tão celebradas, em face da sua sonoridade mais intimista e experimental. Ainda assim, bom concerto.
Seguiu-se no palco Vodafone Conor Oberst que, com o sua mistura de pop, folk e rock, arrancou bastantes aplausos à plateia. Esta foi aumentando à medida que o concerto progredia, terminando com o anfiteatro praticamente cheio. Sem deslumbrar, foi crescendo em confiança e o entusiasmo da assistência correspondeu. Uma boa prestação do americano, mas sem deslumbrar.
Os Perfect Pussy descarregaram energia e raiva para um palco secundário que não chegou a encher, mas que se entregou por completo ao hardcore dos nova-iorquinos. A vocalista grita, mais do que canta, letras de violência e poesia simultânea, transformadas em barragens sonoras de alto calibre. O publico respondeu da melhor maneira, e não tardaram a ver-se pernas em cima das cabeças da assistência. Infelizmente, o som não estava nas melhores condições para se apreciar convenientemente a performance dos americanos.
O punk rock dos Black Lips foi o prato seguinte na ementa principal do Paredes de Coura. Rasgado, foi também afectado com problemas de som, com o saxofone a ser totalmente abafado e a voz de Cole Alexander a ficar por vezes imperceptível, embora a isto não seja totalmente alheio alguma “euforia” do mesmo. No entanto, o publico mais eufórico estaria, já que mais uma vez, o mosh, crowdsurfing e as palmas foram uma constante no concerto. Ajudando à festa, e algo já habitual nos concertos da banda, uma chuva de rolos de papel e preservativos insuflados vinda do palco inflamou os mais resistentes, fazendo da actuação um sucesso entre as massas.
Seguiram-se os Cut/Copy, os cabeças de cartaz da noite, e de quem se esperava uma boa prestação, em face dos rasgados elogios da imprensa especializada. Mas a verdade é que o trio nunca conseguiu agarrar completamente a audiência, que respondeu apenas a espaços aos temas mais dançáveis dos australianos, ficando-se por um abanar de cabeça nos mais rock/pop. Um bocado perdidos no alinhamento, que balançou entre os vários estilos da banda, sem um fio condutor muito definido. Foi, a nosso ver, um concerto quase: quase rock, quase pop, quase electro, quase disco, quase bom.
E ainda houve tempo para uns Cheatahs no palco Vodafone.FM a mostrar-nos o seu indie rock orelhudo, com tudo no sitio certo para fazer as delicias dos resistentes. Boas canções, com uma boa dose de guitarras e alguma distorção, a animar o pessoal que ficou decerto agradado com a prestação dos londrinos.
Naquele que foi talvez o menos conseguido dia até aqui, muito pela variedade de estilos do cartaz, ainda assim muita gente e muita festa junto ao rio Taboão. Hoje, no ultimo dia, se verá se o festival termina como costume, em apoteose. Esperemos que sim!
Fotos oficiais do Vodafone Paredes de Coura por Hugo Lima