25 anos de Mutantes S.21 – Mão Morta na Culturgest

25 anos de Mutantes S.21 – Mão Morta na Culturgest

No passado sábado, dia 18 de Novembro, juntámo-nos aos Mão Morta na Culturgest por ocasião de uma simpática, mas caótica, celebração. O convidado de honra era Mutantes S.21 que, a juntar a tantos outros sucessos espalhados pelos 32 anos de carreira desta banda bracarense, acabou por se tornar num dos álbuns mais importantes na história da música experimental portuguesa.

Os Mão Morta são, sem dúvida, uma das bandas mais relevantes do panorama nacional e o seu Mutantes S.21, lançado há 25 anos, não podia ter envelhecido melhor. A verdade é que o conjunto de temas reunidos neste trabalho soam sempre bem, independentemente do espaço-tempo em que se inserem, razão que contribui também para que tantos o considerem o magnum opus dos Mão Morta. Nesta noite ouvimo-lo na íntegra, com os temas numa ordem diferente e para todos os presentes, acredito que tenha sido como se os ouvissem pela primeira vez.

À hora marcada as luzes do Grande Auditório apagaram-se e o compasso de espera fez-se apenas com a projecção da capa do Mutantes S.21 ao fundo do palco. Rapidamente vemos os cinco instrumentistas subir a palco e a introdução é feita ao tom de Shambalah (O Reino da Luz) e a voz do carismático Adolfo Luxúria Canibal não tardou em juntar-se a tal dança obscura. A setlist foi cuidadosamente escolhida pela banda, ou não fosse a inclusão de Até Cair do seu álbum homónimo, Velocidade Escaldante e Maria, Oh Maria entre os temas de Mutantes S.21, dividindo o concerto em quatro teatrais e consistentes momentos.

Cada um dos temas foi acompanhado por projecções únicas, criadas pelos artistas convidados pela banda para ilustrarem cada um dos seus exóticos mutantes. Sem tempo para pausas ouvimos histórias de encantadores de serpentes, trapezistas e multidões com Marraquexe (Pç. Das Moscas Mortas) e damos por nós a desejar pela primeira vez não estar a ocupar lugares sentados naquela noite. Estamos todos motivados, tanto pelas paisagens visuais como sonoras, mas sobretudo pela constante teatralidade de Adolfo, da qual fez parte uma constante dança desajeitada.

Seguiu-se uma viagem rápida entre as ruas da pálida mas bonita Paris (Amour Est Mort) e a quente Istambul (Um Grito). Já tínhamos a esta altura sido brindados com o humor de Adolfo, sobretudo acerca de um público que naquela noite se mostrava tímido. Puxados para o vórtice de reinvenção destes mutantes, sentimo-nos absorvidos pelos instrumentos e voz perfeitamente entrelaçados, pejados de histórias, texturas, cheiros e cores, num apelo a todos os nossos sentidos.

Budapeste (Sempre a Rock & Rollar) arrancou os primeiros refrões deste público, que a pouco e pouco se tornava menos tímido. No regresso passámos pelo underground de Berlim (Morreu a Nove), as luzes vermelhas de Amsterdão (Have Big Fun) e pela artística Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real), aterrando, como não podia deixar de ser, na nossa eterna Lisboa (Entre as Sombras e o Lixo). Nestes momentos que pareciam encerrar uma noite intensa e inevitavelmente irrepetível, já se viam alguns entusiastas junto ao palco e as manifestações restantes eram constantes. O Grande Auditório da Culturgest deixara-se contagiar pela atitude irreverente e degredo urbano que os Mão Morta transportam através da música intemporal em Mutantes S.21.

As ovações de pé, obrigaram a banda a regressar para dois encores, o primeiro com os temas Tiago Capitão, Fazer de Morto e, segundo Adolfo Luxúria Canibal, a tão portuguesa Bófia, que nos conta violentas histórias sobre desobediência e terminou com o vocalista prostrado no chão do palco. Véus Caídos e E Se Depois fizeram o segundo encore, oferecidos pela banda num tom carinhoso, para o público de uma cidade que os recebeu, recebe e receberá sempre de braços e alma completamente abertos.


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