30 Jun 2022 a 2 Jul 2022

VOA regressou, finalmente, e foi tão bom.

VOA regressou, finalmente, e foi tão bom.

Três anos e muitas polémicas depois, o VOA regressou para comemorar as sonoridades mais pesadas, mas não só. Da consagração dos Bring Me the Horizon à revelação nipónica Crossfaith, não faltaram motivos para qualquer metalhead se congratular com este regresso.

Dia 1, 30 de junho – velhos nem os trapos

Está uma bela tarde no Estádio do Jamor e o relvado parece ser o espaço ideal para um Metal no Estádio. Ao mesmo tempo que alguns entravam e se começavam a ambientar ao espaço e a cumprir o tempo de adaptação, outros estavam já junto do palco para receber Rui Sidónio e a sua Bizarra Locomotiva. A banda não se fez rogada e, de forma musculada (literalmente), iniciou as hostilidades perante um público que lhe é fiel. Desta vez não foi preciso esperar muito tempo para ver Sidónio em tronco nu porque o músico fez questão de entrar logo assim em palco. Competência a todos os níveis, intensos até ao osso. Os Bizarra iguais a si próprios. Estava feito o aquecimento.

Os noruegueses Kvelertak foram os senhores que se seguiram, numa altura em que o recinto se encontrava bem mais composto. Intensa e energética, são alguns dos adjectivos que servem para a actuação da banda que, com o seu Death’n’Roll, à boa moda nórdica, serviu de porta de entrada para a devastação germânica que dá pelo nome Kreator. Com novo disco, “Hate über Allez”, a banda de Mike Petrozza apresentou-se,novamente, em Portugal para um desfilar de classicos como “Satan is Real” ou “Flag of Hate”, intercalados com as novidades “Hate über Allez” ou “Strongest of the Strong”  Foram assim os Kreator iguais a si próprios, e com um palco a condizer.

Também de regresso ao nosso país, os Megadeth apresentaram-se no VOA em grande forma, especialmente Mustaine, cuja voz se manteve durante todo  o concerto, isto sem falar na qualidade dos músicos que o acompanham. Os norte-americanos deram o primeiro grande concerto desta edição do VOA, e prova disso foram temas como “A Tout Le Monde”, “Sweating Bullets” e, claro, “Symphony of Destruction”, cantada a todo o pulmão pelo público.

Num dia sem tréguas, os cabeças de cartaz Gojira, alicerçados pelo mais recente “Fortitude”, foram a cereja no topo do bolo e apresentaram-se perante uma enchente que estava ali para eles e por eles. Temas como “Flying Whales”, “Hold On” ou “Another World” foram o combustível para uma actuação sem macula, com muita paixão e, claro, mosh. Foi um primeiro dia em grande e, de repente, já todos se tinham esquecido do cartaz original. Afinal, o que é que isso interessa?

Dia 2, 1 de julho – surpresas e consagrações

Ao segundo dia não nos foi possível ver os Alien Weaponry mas, rezam as crónicas, que fizeram um bom aquecimento.

Já os lusos Gaerea, a nova coqueluche do metal nacional, aproveitaram o palco do VOA para apresentarem as mudanças de formação e o tema “Salve”, que irá fazer parte do disco a sair ainda este ano. Ficou a sensação de que este não é o seu habitat natural, o dia não favorece a banda que, com a alteração de vocalista, pareceu estar a entrar numa nova vida, mais que não seja na “novidade” da interação com o público, antes inexistente e que conferia aos portuenses uma dose extra de intensidade. Contudo, a banda não desilude, apenas se desenvolve. 

Em estreia no nosso território os japoneses Crossfaith foram arrebatadores com o público. Não houve qualquer perdão e a banda agarrou a malta pelos colarinhos e rebentou com tudo o que mexia com a sua fusão de metalcore com death metal. Moshpit a dar “com um pau”, circle pit… tudo o que um concerto de metal pode ter a banda ofereceu. Os japoneses foram a revelação do dia e, talvez, de todo o festival.

Quanto a Phil Campbell & The Bastard Sons foram a verdadeira celebração do heavy metal com um set feito com os sucessos de Motörhead. Falamos de temas como “Orgasmatron”, “Iron Fist” e, claro, “Ace of Spades”. Competência e eficácia de uma banda que é mais do que isto mas que, com Phil Campbell a recordar um passado não muito distante e com os restantes filhos a fazerem parte da festa. Lemmy terá celebrado no enorme Panteão dos Imortais.

Já dos Mastodon, que são presença habitual no nosso território, dizer que apresentaram um espetáculo diferente, mais progressivo e sem a “pedrada” habitual, a banda de Troy Sandres continua a ser líder da cadeia alimentar que, com adição de um teclista, ganha uma nova vida. Ora imponentes, ora tão frágeis quanto a vida, os norte-americanos revelaram a sua nova pele e o público do VOA agradeceu com devoção. Um momento para ficar na memória!

Os Bring Me The Horizon não são consensuais na comunidade metal, talvez porque o seu universo é feito de cores vivas e de mensagens positivas mas, caramba, a banda liderada por Oliver Sykes dá um excelente concerto, com tudo que se tem direito. Deve ser salientado o esforço do vocalista em se exprimir (durante todo o concerto) em português. A fusão de emo com pop pode não agradar a todos, mas agrada o suficiente para renovar o interesse nestas coisas do metal e, pese a média de idades do público, a banda agradou e saiu do VOA com mais fãs do que quando entrou. Se dúvidas existissem sobre a presença do quinteto no festival, elas foram desfeitas durante a cerca de hora e meia de um concerto que consagra a banda como líder da nova geração. Goste-se ou não, é impossível ficar indiferente à banda. Falar de Muse ou de 30 Seconds to Mars para definir a banda é mais do que simples comparação. Os BMTH são e foram grandes demais para o palco. 

Dia 3, 2 de julho – Metaldiversidade

Ao terceiro dia o VOA entrou num registo mais eclético e, também, o que menos público teve. As duas primeiras bandas, os estreantes Deadly Apples e os repetentes no nosso país The Raven Age, serviram o propósito de aquecer o público que ia chegando e, rapidamente, se tentava abrigar do sol. Apesar dos esforços e da atitude, foram actuações que serviram para pouco, mas que permitiram conhecer estas duas bandas. Uma das actuações que mais curiosidade gerava neste dia era a de Me and That Man, de Nergal (Behemoth), aqui despido de maquilhagem e da parafernália a que se está habituado. O músico foi recebido de forma entusiástica e levou o carinho e afecto de volta. O country rock fundiu-se na escuridão das suas letras e foi sugando a energia de um público que oscilou entre a devoção e o entusiasmo. Diferente, mas igualmente bom. O mesmo não se pode dizer dos holandeses Epica que, uma vez mais, pisaram o palco do VOA. Aqui não está em causa a banda, longe disso, e muito menos está em causa a devoção do público ao sexteto mas, apesar de tudo isso, fica a sensação de que tudo está demasiado certinho, tudo está demasiado gasto, talvez fruto da repetição. Não foi nem mau, nem bom, foi mais do mesmo.

Para confirmar o ecletismo deste último dia, faltava mesmo o regresso, 12 anos depois, dos norte-americanos Rise Against. Vamos esquecer os rótulos punk, punk rock e outros derivados, o quarteto é rock e ponto final. Além da devoção ao nosso público, houve direito a palavras da revolução, de anti guerra e recordação destes últimos dois anos. Os Rise Against envelheceram bem e deram um “concertaço” em toda a sua plenitude, incluindo uma comovente “Hero of War”, apenas com um Tim Mcllrath acompanhado da sua guitarra acústica. Arrepiante.

O mesmo adjectivo serve para falar dos Sabaton. Os suecos foram a derradeira banda do festival e com eles trouxeram as histórias de guerra. Com o palco transformado num autêntico cenário de guerra, com tanques, bazucas e, claro, muita pirotecnia e fogo, os Sabaton foram a devastação das histórias que contam e com um espetáculo onde nada é deixado ao acaso. Joakim Brodén é um daqueles vocalistas imponentes e que sabe como agarrar uma audiência. Houve, ainda, tempo para o baterista se expressar contra a guerra e pela paz, houve tempo para Brodén brincar com o público com “Master of Puppets” mas, acima de tudo, o que os Sabaton deixaram foi um concerto marcante e imponente, fechando, com chave de ouro (e cheiro a fogo) o festival. 

Como conclusão, o VOA de 2022 foi um sucesso, apesar de todos os cartazes que foi apresentando ao longo deste anos, fruto de uma pandemia que não perdoou ninguém. Sabemos que para o ano haverá mais e que os metalheads vão responder à chamada. Estamos todos de regresso e é tão bom, não foi?

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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Mais sobre: Bizarra Locomotiva, Bring Me the Horizon, Crossfaith, Deadly Apples, Epica, Gojira, Kreator, Kvelertak, Mastodon, Me and That Man, Megadeth, Phil Campbell and The Bastards Sons, Sabaton, The Raven Age


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1 Comentário

  1. Paulo diz:

    Boa reportagem, concordo com a vossa analise. Estive apenas no último dia. Os Deadly Apples foram uma boa surpresa e espero vê-los de novo em Portugal. O vocalista bem que deixa a pele em palco e merecem mais reconhecimento. Sabaton foi o que eu esperava e a razão de ter ido ao VOA. Excelentes, com todo o publico a cantar “Red Baron” e “Last Stand”.

    Uma nota à equipa de seguranças em frente ao palco que apanhava sempre as pessoas de faziam “crowd surfing” . Muito profissionais, muito esforçados, altamente competentes.

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