The Script em Lisboa num concerto de confirmação e reconhecimento
Faltavam ainda alguns minutos para a hora marcada (20h00) quando Tom Walker subiu ao palco da MEO Arena para durante cerca de meia hora brindar o público com meia dúzia de canções que prepararam o ambiente para os senhores que se seguiam.
O escocês, que já não é, de forma alguma, desconhecido dos portugueses, deu tremendamente bem conta da tarefa, mostrando o seu talento musical, mas também o de entertainer. Tomando partido de Leave a Light On ser sobejamente conhecido da maior parte do público presente, fechou a atuação com uma espécie de encore improvisado, com toda a sala a entoar o refrão da canção.
Os irlandeses The Script regressaram a Portugal para dois concertos integrados na Satellites World Tour – a digressão que tem o título do álbum lançado em agosto de 2023. Contudo, mais que uma montra do último trabalho, o espetáculo a que assistimos em Lisboa no passado dia 14, dá mostras da crescente popularidade da banda junto dos portugueses, do seu crescimento e de uma relação de reconhecimento mútuo a que não é, nem poderia ser, estranho o apoio que os fundadores da banda sentiram por parte dos seus fãs nos dois duríssimos anos que viveram após a morte de Mark Sheehan em 2023.
Embora a sala não tenha esgotado, a Meo Arena contou com a presença de público de todas as idades que desde muito cedo mostrou que vinha para uma noite de festa com boa parte dos espectadores das bancadas a levantarem-se para dançar logo ao segundo tema, Superheroes. E foi de festa que o serão se fez. Danny O’Donoghue e Glen Power, agora acompanhados por Benjamin Sargent e Ben Weaver levaram-nos em viagem por sete álbuns naquele que viria a ser o maior concerto da banda até ao momento, como nos disse, quase a fechar, o visivelmente emocionado vocalista.
Para além da música, fazem parte da história do concerto os filmes projetados em video wall, sempre a propósito dos temas tocados, muita cor, e alguns momentos de bastante comoção pela ausência física de Mark Sheehan, que, de alguma forma, acabou por estar sempre presente.
O alinhamento, em grande parte comum aos anteriores espetáculos da digressão, abriu com You Won’t Feel a Thing, de 2010. Às fortes batidas de bateria, com o palco ainda completamente escuro, seguiu-se a entrada da banda, com Danny O’Donoghue a atravessar a plateia por entre uma escolta de feixes de luz. De resto, a teatralidade e o cinema marcaram presença em todo o serão em aspetos como os já referidos vídeos, lançamento de confetti e mesmo as diversas mudanças de visual e também de localização de O’Donoghue. Na verdade, “the man that can’t be moved” mostrou-se muito irrequieto, com várias descidas e longos passeios pela plateia, para gáudio dos admiradores.
Sensivelmente 14 anos depois do seu primeiro concerto em terras lusas, é notório que a banda irlandesa tem o seu lugar especial nos corações de um número crescente de portugueses que conhecem bem a sua discografia, estabelecendo uma relação de continuidade com a que a própria banda define como “uma forma de estar”. Conforme nos disse o vocalista, The Script é família e amor. A tragédia da partida súbita de um dos seus membros foi também, naturalmente, vivida pelos fãs e O’Donoghue, enquanto porta-voz da banda não se cansou de mostrar a gratidão pelo apoio destes. The Man Who Can’t Be Moved, a sexta música tocada, e que continua a ser um dos maiores sucessos dos The Script, foi seguido de uma fortíssima ovação, que suscitaria o comentário acerca de cada regresso: It gets better and bigger everytime.
Após The Last Time, o vocalista pede que haja luz na sala para olhar o público nos olhos: “Perdemos o nosso irmão. Ele está a olhar para nós”… e a banda toca If You Could See Me Now, uma homenagem a Mark e a todos os que já perdemos e que estão a olhar ‘para baixo’. Segue-se Inside Out, o tema de Satellites pensado para, de alguma forma, ajudar a organizar todo o caos que vem sendo, eventualmente, vivenciado por cada um de nós, pela banda e pelo próprio Danny que, contou-nos, descobriu muito recentemente que é disléxico. No final de Inside Out, um momento inesperado: uma fã é convidada a subir ao palco e mostrar o cartaz que tinha consigo: “Mark Will be proud of you” (O Mark está orgulhoso de vós). A jovem Camila é convidada a sentar-se ao piano ao lado de Danny e tocar a última nota de Never Seen Anything Quite Like You, dedicada à própria Camila. No refrão de mais este momento emotivo pudemos ouvir I’ve Never Seen Anything Quite Like Lisbon.
Quem nos lê perdoará se falamos repetidas vezes em emoção ou mesmo comoção, mas, a par do clima de festa, viveu-se um clima de comoção, nostalgia e alguma dor, dimensões que poderiam parecer antagónicas, não soubéssemos nós do imenso poder catártico da arte em geral e da música em particular.
Assim, é justo realçar que se tratou de espetáculo de reencontro de velhos conhecidos que vêm construindo uma amizade reforçada com cada álbum e a cada regresso da banda, numa relação em que prevalece, apesar dos pesares, a alegria e o encontro de “almas” ilustrado por diversos momentos do concerto, dos quais realçamos Paint the Town Green que se converteu numa celebração antecipada do mais importante feriado nacional irlandês: o dia de S. Patrício, assinalado a 17 de março e em que por alguns minutos poderíamos jurar que a Meo Arena fora ocupada por uma enorme legião celta, com várias bandeiras irlandeses a agitarem-se na plateia.
For the First Time, outro dos temas fortes da banda ‘termina’ o concerto com um “obrigado do fundo dos nossos corações!”
No regresso, face ao ambiente de partilha de comunhão de todo o espetáculo, não nos surpreendeu o facto de o encore ter três canções, e não apenas as duas do alinhamento dos concertos anteriores da digressão: Home Is Where the Hurt Is (o ‘extra’), Breakeven e Hall of Fame com Danny a sugerir ao público que ligasse as luzes dos telefones, pois “as estrelas são vocês!”. O tema é dedicado a todos os que podem estar a passar um mau bocado e encerra o espetáculo em esfuziante alegria com todo o público de pé, a cantar e a dançar.
Alinhamento:
You Won’t Feel a Thing
Superheroes
Rain
Both Ways
Six Degrees of Separation
The Man Who Can’t Be Moved
The Last Time
If You Could See Me Now
Never Seen Anything Quite Like You
Before the Worst
Inside Out
Nothing
No Good in Goodbye
Paint the Town Green
For the First Time
Encore:
Home Is Where the Hurt Is
Breakeven
Hall of Fame