Steven Wilson divinal na Altice Arena

Steven Wilson divinal na Altice Arena

O bom filho a casa torna! Assim se pode descrever este regresso de Steven Wilson a Portugal um ano após ter iniciado a To The Bone Tour nesta mesma sala. O público nacional recebeu o melhor de Steven Wilson numa noite fria que o músico fez questão de aquecer! Aqui fez-se música para se escutar.

Algumas dúvidas pairavam na sala lisboeta, talvez um pouco aquém do que seria justo, sobre o que poderia Steven Wilson apresentar de novo, afinal, foi nesta mesma sala que esta To The Bone Tour começou, há cerca de um ano. É claro que muito do que foi visto aqui já não era novidade, porém o músico britânico soube, desde o início, agarrar o público. Visualmente impressionante, musicalmente desafiante, Wilson é hoje o rosto visível do rock progressivo, algo que fica bem patente em faixas como Nowhere Now, Pariah e, claro, Home Invasion, numa primeira parte que, em muito pouco, teve de diferente de Janeiro de 2018. Refuge trouxe o primeiro momento de diversão, com Wilson a explicar aos mais novos o que é uma guitarra e a mostrar como se pode ser “sexy” e solar sem olhar para o instrumento. Divinal. Esta primeira parte terminou com Ancestral, um devaneio progressivo, onde o baixo se torna impróprio para estômagos frágeis. A pausa agradece-se.

Para a segunda parte desta actuação estavam guardados, talvez, os melhores momentos de um concerto com cerca de três horas. Neste segundo “set” Wilson mostrou-se mais confiante, mais falador e, claro, com o seu humor “very british em grande nível. Claro que, nem tudo pode ser perfeito e, aqui e além, Wilson e os seus músicos apresentaram alguns momentos, como Index ou Permanating, que apesar de se inserirem bem na ideia geral do concerto se afastam daquele que é o caminho do músico. Corajoso é o mínimo que se pode dizer, porém, Wilson pode fazer o que bem entender que ninguém leva a mal. Num alinhamento que nunca esqueceu os Porcupine Tree, não podia faltar Lazarus (uma das mais reconhecidas) ou Sleep Together. Neste ponto já a sala irmã da Altice Arena se regozijava com a qualidade sonora e visual do quinteto e foi sob um manto de aplausos que Wilson e companhia se retiraram do palco para regressar para um “encore” que, estando longe da perfeição (tudo estava demasiado alto), nos trouxe à memória a velhinha Black Field e, claro, o malogrado Prince com a versão (muito própria) de Sign the Times. Tudo isto antes da tempestade sónica de The Sound of Muzak e da despedida, em tons cinzentos, com The Raven That Refused to Sing.

Mais do que se perceber o génio é imperativo compreender a sua arte e Wilson é um artista cuja arte se entende, incorpora e se interioriza em nós. Emocionalmente intenso e musicalmente exigente, este foi um concerto em (quase) tudo diferente de 2018. Steven Wilson está em grande forma e o rock progressivo continua a ser uma força a ter em conta. Aqui não houve espaço para dúvidas.

Nuno C. Lopes  

Melómano convicto, dedicado ás sonoridades mais pesadas. Fotógrafo, redactor, criativo. Acredita que a palavra é uma arma. Apesar de tudo, até é boa pessoa.


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