Rock poderoso, Funk sexy e, sim, recordações dos 90’s: Lenny Kravitz incendeia palco da MEO Arena
Lenny Kravitz trouxe à MEO Arena, em Lisboa, a Blue Electric Light Tour, de apoio e promoção ao 12.º álbum de estúdio do músico, que encheu até à última gota a sala lisboeta a 8 de abril. Eletrizante, vibrante, poderosa e muito sexy serão até poucos adjetivos para descrever a atuação do cantor que já ganhou quatro prémios Grammy na categoria “Best Male Rock Vocal Performance”. Aliás, depois desta atuação, a pergunta impõe-se: para quando a entrada no Rock and Rock Hall of Fame?
Lenny Kravitz brindou os milhares de fãs portugueses com uma mistura muito bem equilibrada entre os temas do mais recente álbum (embora eu tivesse gostado de ouvir o Human e não o tocou) e os mais antigos que foram cantados e vividos com uma intensidade muito forte, muito especial. Tudo começou com explosões de pirotecnia e Bring It On. O músico tem quase 61 anos (ah pois é) e parece intercalar ginásio e estúdio com o mesmo empenho e dedicação, como ficou revelado nesta atuação que continuou cheia de garra em Minister of Rock n’ Roll. Agora… vamos fazer uma brincadeira mental: imaginem que Stevie Wonder e Prince tinham um filho juntos. Ora aí têm o Lenny Kravitz de 2025 com uma injeção de positivismo chamada TK421 – mais um single para lá de bom do registo do ano passado.
O cantor está a conseguir fazer o mundo sorrir e dançar enquanto nos transmite leveza e amor nas suas músicas. Também nos mostrou que é assim que vive a vida: a agradecer cada manhã, cada dia e uma nova oportunidade de viver, amar e perdoar. Dizer, também, que o cantor ainda nos dirigiu umas palavras em português, um muito bem pronunciado “Boa noite” – ou não fosse ele um fazendeiro no Brasil – e não se cansou de desfilar, literalmente, atravessando todos os cantinhos do palco.
Depois de I’ll Be Waiting, e numa espécie de “pit stop” antes da reta final do concerto, chegou a altura de dar a conhecer a coesa e poderosa banda de nove músicos em palco, com a baterista Cindy Santana, que já o acompanha há uns anos valentes, a receber uma chuva de aplausos.
Kravitz recuperou o fôlego, atirou as toalhinhas do suor para o “golden circle” e começou a dar tudo nos clássicos como It Ain’t Over ‘Til It’s Over, do seu segundo álbum, Mama Said, de 1991, canção composta como um pedido de reconciliação à então esposa, Lisa Bonet; Again, o único inédito do álbum de Greatest Hits de há 25 anos; American Woman que, embora custe a acreditar, é uma versão de um original dos The Guess Who; Fly Away, de 98, e Are You Gonna Go My Way, de 93, que fechou a atuação antes do encore.
Todas estas últimas misturaram o espetáculo visual com o virtuosismo musical porque, há que dizer, a voz de Lenny Kravitz continua excelente e penetrante enquanto ele próprio pega e troca de guitarras com a maior das facilidades, portanto, é um… “muito em um”. Não deixa de ser curioso que as letras das suas músicas remetam para um certo apelo à Divindade, quando a imagem aposta no lado mais carnal do Ser Humano.
Let Love Rule vem em modo encore infindável e Kravitz agiganta-se ainda mais, passeia pelo meio público, fala de amor, de amplificar o amor, tudo em modo amor e lá tem de se despedir…
A digressão que passou por Lisboa não é apenas um cortejo nostálgico; é também uma celebração de reinvenção de coisas boas. Blue Electric Light mostra um Kravitz maduro e em total controlo do seu processo criativo. Quase todo tocado e produzido pelo próprio, o disco mergulha em experiências musicais imperdíveis. 12 álbuns depois, e mesmo que ele não o admita, LK está numa das suas melhores fases.
Uma merecida nota para Amaura que atuou meia hora na abertura do concerto de Kravitz. Muito emocionada e algo nervosa, a cantora mostrou-se imensamente grata pela oportunidade de ali estar quando a Meo Arena já estava muito cheia. As fotos que fez no final, depois de uma atuação de músicas que refletem bem as suas influências soul e R&B, deram-nos a perceber que realmente estaria a viver um sonho.
Subespécie é o seu mais recente álbum, lançado em 2023, que consegue “polir” as várias dores que Amaura foi vivendo nos tempos que antecederam o seu lançamento. Encaixou muito bem.