Pólo Norte no Campo Pequeno – o mundo pode girar, mas eles continuam a saber o caminho
Com três décadas de carreira, os Pólo Norte deram um concerto de mais de duas horas e meia no Campo Pequeno, em Lisboa, para deliciarem os fãs com todos os seus êxitos que se tornaram num marco da história da música portuguesa. Os Pólo Norte são das bandas pop com maior reconhecimento e carinho por parte do público português, o que ficou comprovado com a sala cheia e o público a aplaudir de pé a 29 de março.
A noite começou com imagens soltas e serem exibidas e excertos das canções que facilmente reconhecemos destes 30 anos. Começámos por ouvir Tatuagens e, logo a seguir, Deixa o Mundo Girar de 2013 para pôr logo toda a gente a cantar.
Um concerto dos Pólo Norte, com Miguel Gameiro ao leme, é uma viagem emocional que mistura nostalgia, alegria e uma saudade tremenda da música portuguesa que ouvíamos a toda a hora nas rádios dos anos 90. A banda, com a sua longa trajetória, construiu um repertório que se entrelaça com a vida de muitos portugueses, e cada canção é um portal para memórias e sentimentos que, a dada altura, todos partilhámos (os sonhos da juventude onde ainda mal havia telemóveis, as borboletas na barriga dos primeiros namoros, as tão típicas fogueiras à volta das quais nos sentávamos longas horas simplesmente a conversar).
Chegou, entretanto, a primeira grande surpresa da noite: Diogo Piçarra como convidado especial do grupo que, segundo ele, está “há 30 anos a fazer boa música” e para cantar em dueto Amanhã, a que seguiu Paraíso, do jovem convidado. “Vais ter de explicar às pessoas quem é o “tio” que está ao teu lado nas fotografias”, brinca Gameiro, sempre, sempre bem-disposto.
A voz de Miguel Gameiro, inconfundível e carregada de emoção, guiou o público por baladas românticas e hinos que ainda hoje nos conseguem devolver alguma esperança. Canções como Lisboa, de 1995, e Aprender a Ser Feliz, tocam “cá dentro” com uma intensidade que transcende o tempo, unindo centenas de pessoas numa só voz. Fez-se o concurso de quem canta melhor (senhoras ou senhores). A energia no ar era palpável, uma mistura de gargalhada e desconsolo porque tudo aquilo que passou enquanto ouvíamos Pólo Norte em CD não volta mais, como se cada nota tocasse as cordas mais sensíveis da alma. O vocalista lembrou “o tempo em que cantávamos com os Delfins”, acompanhado de imagens antigas da banda e lá vamos nós todos a cantar Grito. Miguel Gameiro estava visivelmente feliz e merecia tanto todo este reconhecimento.
Surpresa n.º 2: Pedro Abrunhosa. Ainda que tenha participado em vídeo carregou ainda mais na intensidade de Dá-me Um Abraço. Fomos desafiados a abraçar o “vizinho do lado”. Não funcionou em pleno, mas valeu a tentativa de aproximar fisicamente as pessoas.
Outro momento especial foi o de Ilha dos Amores, a canção dedicada à Ilha Terceira, nos Açores, depois do grupo lá ter atuado pela primeira vez.
O público, rendido à entrega da banda, cantou cada verso com paixão, criando um coro gigante que ecoou pela sala. Houve sorrisos e alguns olhos mais brilhantes de comoção, testemunhos de como a música dos Pólo Norte faz parte da banda sonora das nossas vidas. A presença de Miguel Gameiro, carismático e genuíno, intensifica a ligação com o público, como se cada pessoa na sala fosse um velho amigo seu. Miguel Gameiro é aquele tipo super porreiro, com que nunca nos chateámos e que podia viver na nossa rua com a certeza de que nos ia ceder o seu lugar na garagem para fazermos uma festa de anos. E ainda aparecia com uma sobremesa.
Surpresa n.º 3: Mariza em palco. O nosso anfitrião até trocou de roupa para a receber e fizeram dueto com o tema O Tempo Não Para, que tem letra de Gameiro, e O Teu Nome, dele próprio.
Vem A Dança e vários fãs subiram ao palco a convite da banda para se juntarem ao ambiente que passou a ser mais festivo (já estávamos a precisar de aliviar!). Seguiu-se Pura Inocência.
O Campo Pequeno, já se sabe, não é propriamente conhecido pelos belos cenários que possa proporcionar e nem pela boa qualidade do som, mas também aqui a alma da música foi a protagonista e o público o seu cúmplice.
No final, Se Eu Voltasse Atrás, com o Campo Pequeno totalmente às escuras só iluminado pelas lanternas dos telemóveis; a sensação foi de plenitude e de partilha. Já em encore ouvimos Vou Pra Longe e voltamos a ter Dá-me Um Abraço com Miguel Gameiro a vir mesmo para o meio do público distribuir afetos.
O concerto dos Pólo Norte é mais do que um espetáculo musical; é uma experiência emocional que deixa uma marca inesquecível em quem tem o privilégio de a recordar com uma história por detrás. A 13 de março de 2026 vão estar na Super Bock Arena, no Porto. Tem de encher. Vale a pena.