O Natal é qualquer coisa entre o bolo-rei e os concertos de The Legendary Tigerman

O Natal é qualquer coisa entre o bolo-rei e os concertos de The Legendary Tigerman

A tradição ainda é o que era – pelo menos desde 1999 (ler mil nove e noventa e nove, para soar mais tradicional ainda!). Foi nesse ano que Paulo Furtado deu o seu primeiro concerto de Natal – ou não Natal, diríamos nós – na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto (Lisboa). The Legendary Tigerman lançaria o seu primeiro trabalho uns anos mais tarde, em 2001, intitulado Naked Blues.

“Este Natal na Galeria Zé dos Bois está oficialmente descontrolado” anunciava Tigerman na sua página, no facebook. Seriam três concertos, a 25, 26 e 27 e muitos convidados: João Cabrita, Paulo Segadães, João Doce, Afonso Rodrigues, Rai e Filipe Costa. “Os concertos serão à moda roleta russa, não sabereis até ao último momento quem vai tocar e em que dia. E esta, hein?”, acrescentou o Homem Tigre, em jeito de provocação.

Pelas 23h20, mais coisa menos coisa, no dia 26 de Dezembro, Tigerman subia ao palco e dava início ao segundo dos três concertos agendados. Aguardava-o uma sala cheia; muitos se apressavam a tirar as fotografias necessárias para actualizar as redes sociais e, assim, expor ao mundo este acto de rebeldia. Paulo Furtado entrou no palco, sozinho, e anunciou que estavam reservados dois momentos neste concerto: uma primeira parte mais tranquila e a outra… nem tanto.

O ambiente era de festa na sala conhecida como o aquário, por ter janelas vidradas, de cima a baixo. De vez em quando, podíamos espreitar para o lado de lá da janela, para a rua, onde se vivia uma banda sonora certamente diferente. Enquanto isso, The saddest thing to say trazia para a tela – e para os nossos ouvidos – a enorme voz de Lisa Kekaula.

O concerto contemplou um breve intervalo para repor energias e para que Paulo Furtado voltasse ao palco, acompanhado de mais amigos e músicos. Afonso Rodrigues, Luis Raimundo, Filipe Costa, João Cabrita, Paulo Segadães, João Doce, Guilherme Gonçalves, Paulo Ventura, Vasco Silva, Tiago André Sue, Rui Rodrigues e Sérgio Hydalgo foram os convidados presentes. O público não arredou pé. “Estou na Zé dos Bois, num concerto”, ouvia-se alguém a dizer, no público, procurando desligar apressadamente o telemóvel.

Há um lado rebelde nesta tradição natalícia do músico que visa celebrar, não tanto o espírito natalício, mas sim o espírito dos blues, dos amores perdidos, da solidão. E não é assim que tantos de nós se sentem, nestes dias de festa? Desconfiamos que exista, algures, um “estudo que comprova” que o Natal deixa algumas pessoas tristes e/ou com vontade de fugir das árvores com luzes a piscar e dos almoços e jantares de família. Talvez sejam cada vez mais aqueles que assumem este sentimento – talvez por isso os concertos de Tigerman, anunciados para 25 de dezembro, esgotem rapidamente.

Fuck Christmas, baby, I got the blues – este é o espírito que leva tanta gente a esgotar a Zé dos Bois, na noite de Natal e que “obriga” o músico a abrir mais duas datas para espalhar a palavra e pregar o “que se lixe o Natal”. Desta forma, abrem-se as portas aos corações (mais ou menos) solitários que querem celebrar o Natal ao som de rock e blues.

A tradição já não é o que era, no sentido em que dantes não podíamos contar com Paulo-One-Man-Show-Furtado a dar-nos música, nestes dias de luzinhas a piscar, bolo-rei, bacalhau, perú, filhoses e roupa velha. Ainda bem que a tradição é aquilo que foi no dia 26 de Dezembro.

Joana Rita  

Joana Rita é filósofa, criadora de conteúdos, formadora e investigadora. Ah! E uma besta muito sensível.


Ainda não és nosso fã no Facebook?


Mais sobre: The Legendary Tigerman

  • Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *