Nena esgota o Campo Pequeno com um brinde à pop portuguesa

Na noite de sábado, 4 de outubro, o Campo Pequeno, em Lisboa, voltou a ser palco de uma celebração especial, não apenas da música, mas também da coragem de se ser pop nos dias que hoje correm. Nena, uma das vozes mais cativantes da nova geração portuguesa, apresentou-se perante uma sala esgotada, levando ao palco temas dos seus dois álbuns: Um Brinde ao Agora e Ao Fundo da Rua. O concerto foi, acima de tudo, uma afirmação de maturidade artística da cantora de raízes alentejanas e uma comunhão intensa com o público de todas as idades. De início, fiquei intrigada sobre o que levaria tantas meninas pequeninas de saias de tule, lantejoulas e bandoletes com luzinhas na cabeça, a querer ver a nossa artista a descrever o que acontece quando “os croquetes acabam”. Mas claro que rapidamente as conversas dos vizinhos de cadeira me fizeram aperceber uma das mais recentes conquistas profissionais de Nena: ser jurada do concurso de talentos The Voice Kids.
Desde os primeiros acordes, Nena mostrou o carisma que a caracteriza: uma presença doce, mas segura, que conquista sem esforço. Sexy e gira sem fazer corar marinheiros. A abertura foi de dimensão internacional com projeções 3D que nos davam a ilusão de a cantora aparecer e desaparecer com correntes a serem projetadas.
Com É O Que É e Temos Pena! estabeleceu de imediato a tónica emocional da noite: letras sinceras, melodias contagiantes e uma entrega vocal que foi crescendo à medida que foi ficando mais à vontade, e nós, do lado de cá, mais felizes e sorridentes com tudo o que estávamos a ver e a ouvir. O público respondeu sempre muito bem, num coro espontâneo que veio a acompanhar quase todas as canções seguintes.
Bastante cedo Nena apresentou-nos a sua banda, composta por Zé Ganchinho (baixo), Pedro Castro (guitarra acústica), Feodor Bivol (guitarra elétrica), Manuel Oliveira (teclado) e João Carvalho (bateria). Diana Martinez, ela que também já teve carreira a solo, é a sua super backing vocal.
Um dos pontos altos da noite foi o ambiente recriado de jukebox dos anos 80. Ouvimos fragmentos de canções dessa década do século passado que tão bem conhecemos e eis que Nena irrompe com Passo a Passo. Tudo coreografado, tudo giro, tudo divertido. Depois, os papelinhos: primeiro os vermelhos, a seguir os amarelos, mais na reta final do concerto, que levaram os mais pequenotes à loucura.
De referir a presença dos convidados especiais. Joana Almeirante subiu ao palco para interpretar Mulher dos Teus Sonhos, Luís Trigacheiro juntou-se em À Espera do Fim (que Nena nos disse que lhe fazia lembrar de casa), e Carolina de Deus encantou em Lembras-te de Mim?. Três colaborações que acrescentaram brilho e diversidade ao espetáculo que Nena antecipou que iria entrar numa fase mais acústica, introspetiva, acompanhada por Manuel Oliveira ao piano. Nota menos positiva para os microfones dos convidados que emitiram um registo bastante baixo no início das suas respetivas canções. Fones nos Ouvidos puxa pela lágrima quando nos fala do avô.
Os temas Que Bem Fiz Eu a Deus e O Pior Inimigo Sou Eu destacaram-se pela energia contagiante e pelos arranjos bem equilibrados que ali ainda os engrandeceram mais.
Mas foi com as canções mais antigas, do álbum Ao Fundo da Rua, que o concerto tocou nos fãs de sempre. Portas do Sol e Do Meu Ao Teu Correio exploraram nuances emocionais e sonoridades mais densas. A voz de Nena mostrou-se capaz de percorrer diferentes territórios, do sussurro confessional ao grito contido porque a artista soube equilibrar momentos de pura emoção com passagens mais descontraídas, entre risos, histórias e pequenas confidências. E um gigaaaaannnteee momento de agradecimentos.
Nestes entretantos, houve muita gente a levantar-se para dançar, para se aproximar do palco e a emoção tomou conta do espaço com “mil” telemóveis erguidos, luzes acesas, e uma sensação coletiva de pertença. Afinal, era impossível ficarmos quietos enquanto nos cantava Os Croquetes Acabam.
Nena agradeceu, visivelmente comovida, todos os que compraram o bilhete que fez esgotar o Campo Pequeno. E terminou sem encore, mas com uma mesa posta e cocktails para que os protagonistas da noite pudessem, finalmente, fazer o seu Brinde Ao Agora.
Mais do que um concerto, a noite no Campo Pequeno foi uma celebração da pop portuguesa contemporânea: próxima, luminosa, genuína, a vibrar em bom. Nena mostrou ser corajosa o suficiente para se mostrar pop perante um Portugal que tende a taxar de menos inteligentes todos os que não “sentem” as sonoridades mais alternativas.
Se assim é, então vamos aproveitar que somos muito pop e citar Taylor Swift: “It’s so fun to have fun!”.

