James de volta a casa – Reportagem no Meo Arena a 4 de dezembro

Foi tal qual se esperava. Nas visitas, os amigos encontram-se na sala e aqui não podia ser diferente. Como já vem sendo hábito, o vocalista dos James deu início ao concerto atravessando a plateia do Meo Arena por entre centenas de fãs.

Ninguém quis saber quem era o dono da casa, se os lisboetas ou a banda. Por se tratar de um encontro de amigos não se fizeram cerimónias, nem se pediu o já costumeiro “desliguem os vossos telefones”. Câmaras fotográficas e respetivos donos seguiram o líder dos James sala fora, quase-quase palco dentro. E foi Just Like Fred Astaire (de Millionaires – 1999) que Tim Booth, acompanhado de Adrian Oxaal e da sua guitarra, chegou junto dos restantes músicos.

Nesta sua visita a Portugal, os ingleses serviram ao seu público fiel, oito canções de Girl at the End of the World – o álbum lançado em março deste ano – sabiamente conjugados com um sortido em jeito de ‘Best Of’ da sua discografia que passaram por temas incontornáveis como Sit Down, She’s a Star ou Come Home.

O espectáculo de cerca de duas horas constituiu mais um episódio da longa história de amor entre os portugueses e a banda originária de Manchester. Um tempo e espaço com espaço e tempo para tudo: sobrinhos que encontravam os tios com quem, muito provavelmente, aprenderam a jurar que às vezes, às vezes… ; amigos que aproveitavam as pausas para conversar, tirar mais uma selfie ou tomar uma bebida comprada a um vendedor que ainda não era nascido – longe disso! – quando a banda se formou; e sobretudo muita alegria.

No palco, um esfuziante Tim Booth contagiava todos os músicos e público com o seu ondear característico e a voz que continua a corresponder inteiramente às expectativas dos admiradores. Referimos o palco, mas tratando-se de Booth é fácil imaginar que parte do tempo foi passado bem junto dos convivas, mais concretamente, sobre estes, nos vários momentos de crowdsurfing já habituais nas suas atuações.

Trata-se de facto de uma banda que não sendo imprevisível nunca desilude o seu público. Vozes e instrumentos estiveram sempre no nível característico em profissionais tão experientes quanto eles. A par da felicidade constantemente espelhada no sorriso do vocalista, presenciámos alguns momentos particularmente harmoniosos de diálogo entre a voz e os instrumentos, em particular o violoncelo e o sublinhar característico do trompete em temas como She’s a Star.

A maior parte das canções foi reconhecida e acompanhada desde os primeiros acordes, sendo que quando Tim Booth canta Sit Down toda a sala salta. É ele que recorda que há já muitos anos cantaram aquela ou outra canção em Lisboa e nos diz que é um verdadeiro prazer estar de volta, acrescentando (não havia necessidade!) que envelhecemos juntos.

E por todos se conhecerem tanto e há tanto, Lisboa acompanha a banda ainda mais vigorosamente no regresso para o encore, com Getting Away With It a ser literalmente gritado por alguns milhares, após o que Booth pronuncia articuladamente as palavras “There’s a storm outside” e fica imóvel, sorrindo, enquanto Lisboa começa a cantar Sometimes para a banda.

A visita deste “domingo à noite em Lisboa” termina com um tema do último álbum que, diz Tim Booth, tem tudo a ver com isso: Nothing But Love.

E porque é de amor que se trata, o público não quer que a festa termine já e por isso se demora longos minutos a pedir mais um regresso que, todos sabemos, acontecerá, pois esta é uma daquelas bandas que volta sempre ao seu lugar e que sabe que tem lugar bem marcado em Portugal. E é talvez para mostrar tudo isto que os aplausos se prolongam marcando o final da festa, já que todos sabem que não haverá regresso esta noite, pois ouviram e entenderam as palavras finais de Tim Booth quando se despediu de Lisboa em português com um sonoro: Bom Natal!

Carla Flores  

A repórter de guerra sonhada aos 10 anos deu lugar à professora de inglês que se dedicou a outras lutas, como a da promoção da leitura e a aquela coisa do "ah e tal, vamos lá mudar o mundo antes que ele nos mude!


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