Fada Florence e a sua máquina de energia primaveril – Reportagem no MEO Arena

Fada Florence e a sua máquina de energia primaveril - Reportagem no MEO Arena

Minuto a mais, minuto a menos, a pontualidade britânica da máquina de Florence fez-se sentir, quando o espetáculo começou praticamente à hora marcada. Menos de um ano depois da sua última passagem por terras lusas, quando tocou exactamente no mesmo recinto mas na altura no âmbito do festival Super Bock Super Rock, Florence And The Machine voltaram ao lugar onde foram felizes para apresentar o último álbum How Big, How Blue, How Beautiful – o mesmo que apresentaram em Julho do ano passado – ao público português.

Numa noite já quente por ela mesma, onde finalmente começamos a sentir a primavera, “What The Water Gave Me” e um cenário de quase bolas de espelhos chegam e abrem as hostilidades. Pose majestosa e ainda com movimentos contidos, eis que Florence Welch se dirige a um MEO Arena não esgotada mas bem composta. Não temos bem a certeza mas Welch não precisa de ginásio decerto, já que ainda a primeira música não terminou e ela já fez uma quase prova de obstáculos em cima do palco. “Ship To Wreck” chega – nada de fininho – com a ruiva de serviço a palmilhar todos os pedaços possíveis do palco, com um público português a ser fiel a ele mesmo e a cantar a fortes pulmões para a primeira prova de quase salto em altura da noite. Mas salto aqui, salto ali, e fortes demonstrações de poder vocal, levam a “Rabbit Heart”. “Lisbon, do you want to get high now?”, e a resposta não se fez esperar. No meio do turbilhão de sons, de gritos de alegria e palmas de contentamento, perdemos Florence de vista. E do nada, reaparece das trevas de cores, onde a vamos encontrar já no meio da primeira fila, emergida no público, para a primeira forte interação com os fãs. Os ecrãs são os únicos guias possíveis para conseguirmos acompanhar o poço de energia que é a cabecilha do grupo e é aí que a vemos num quase crowd surfing com o pessoal da frente de palco. “Obrigada” ouve-se e por entre agradecimentos e desabafos do quão está feliz por estar em Lisboa, “Shake It Out” chega para espantar todos os demónios e más vibrações que – dificilmente – possam haver.

É incrível a quantidade de agudos e graves que a voz de Florence consegue emitir. Dificilmente existem palavras para classificar. Mas também não é preciso. “Delilah” explica isso por nós. E mais uma vez não percebemos como é possível alguém correr tanto e cantar ao mesmo tempo, sem que uma nota saia do sítio – ou um pulmão. Qual Mick Jagger qual quê, os moves são mesmo da Florence. “Sweet Nothing” vem de fininho, calma, numa versão soft e quase woodstock, ao contrário da original, feita no modelo eletrónico com Calvin Harris. Numa pausa para chegar mais perto dos fãs, confessa que houve momentos menos bons na sua vida que a ajudaram a crescer e que a trouxeram onde está hoje. “How Big, How Blue, How Beautiful” ajudaram-na nesses momentos. E faz um apelo para que, quem esteja a passar por coisas menos boas, sejam elas quais forem, se inspirarem a ultrapassa-las com a ajuda dessas palavras.

Depois de uma mini demonstração de uma-quase-dança-contemporânea, Florence confessa estar feliz por estar de volta e poder voltar a “esmurrar-se” enquanto dançava no final desta canção. Ainda na onda de desabafos, partilha que depois de uma noite de exageros e com uma grande ressaca, numa terra fria e com comida não tão boa como a que há em Lisboa surgiu “Cosmic Love”, forçadamente, já que a música tinha que ser escrita, desse por onde desse. Com um balão em forma de coração na mão, encostado ao peito, que alguém gentilmente encheu na plateia, “thank you giving me your heart, you can have mine”. Ok Florence, aceitámos a oferta, não te preocupes. “Long & Lost” e “Mother” vieram fugir do repertório dos sucessos imediatos, abrindo caminho para “Queen Of Peace”, seguindo rapidamente para “Spectrum”. Claramente a ressentir-se da levada de concertos seguidos, há alturas em que a voz já falha e quem a salva é a quase orquestra que a acompanha e não desaponta. “Say My Name” chega com a ordem para quem se tinha decidido sentar: tudo de pé. E aguentem-se porque não vai acalmar, já que “You Got The Love” chega em modo quase a capella mas que explode, e se torna em algo agressivo, não só para o público mas para a voz de Florence, que já rouca partilha que este é o sexto concerto que dá no espaço de sete dias e que, sem dúvida, os portugueses foram os que mais gritaram. Mas a voz ainda se aguenta para um dos hinos da noite e “Dog Days Are Over” chega e acaba com o que quer que seja que de mau esteja a acontecer. “Abracem-se, beijem-se, toquem na cara uns dos outros e tirem uma peça de roupa!” foram as palavras chave que todos seguiram à regra, e do nada, não havia quem não agitasse um casaco ou um cachecol no ar, enquanto amigos se abraçavam, namorados trocavam beijos ou colegas partilhavam sorrisos, enquanto Florence foge quase a sete pés, correndo palco fora.

O encore chega sem dar tempo que ninguém implorasse por ele. “What Kind Of Man” obriga a mais uns quantos saltos, ora nossos, ora da Florence, que do nada mergulha novamente na primeira fila para descansar nos braços dos fãs. “Drumming Song” é a mais agressiva e barulhenta da noite, que provoca um efeito mais do que esotérico em Florence, já que damos por ela no chão, num quase movimento de exorcismo, a contorcer-se ao som duro da bateria. Já em pé mas pouco composta, de bandeira portuguesa às costas, junta-se ao ensemble de incríveis músicos que a acompanham nesta insana aventura musical, para se despedirem de um público que tanto lhes pede, mas muito mais lhes dá.

Nós por cá, ficamos à espera do próximo, e que a primavera esteja sempre connosco, como está com a fada Florence e a sua máquina pessoal.

Nota da redação: A foto que ilustra este artigo não é do concerto de ontem. É de um concerto que também aconteceu no MEO Arena. Como não obtivémos acreditação para fotografar ontem, foi o mais aproximado que se arranjou.

Marta Ribeiro  

A miúda do cabelo curto. Fotógrafa, sonhadora, amante de música e com a mania que tem piadinha. Despachada. Às vezes escreve coisas um tanto ou quanto bonitas, mas na verdade a única coisa que faz bem é dar ração à cadela. Normalmente encontra-se por detrás de uma câmara e em vestes negras.


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