8 Jun 2017 a 10 Jun 2017

Para o fim, as (boas) surpresas. O 3º dia do NOS Primavera Sound.

Para o fim, as (boas) surpresas. O 3º dia do NOS Primavera Sound.

O NOS Primavera Sound 2017 terminou no dia 10 de Junho. O festival das flores na cabeça e das purpurinas na cara encerrou a sua sexta edição com o registo da passagem de 90 mil pessoas, pelo Parque da Cidade. O Pedro Gama rumou até lá para vos relatar as sensações deste último dia.

Ao terceiro dia, eis que surgiram as surpresas maiores, algumas boas, algumas nem tanto. Comecemos pelas coisas boas. Núria Graham foi uma surpresa pela positiva para quem vos escreve, que não conhecia a cantora espanhola mas ficou bastante agradado com o bocadinho passado a partir das 17:00 no palco Super Bock. Quente, numa tarde em que não faltou calor.

Depois, perto das 18:00, os portugueses Evols sobem ao palco NOS, o principal, para uma primeira viagem pelo rock psicadélico, onde voltaríamos mais vezes durante o dia. Competentes, com uma mão cheia de canções bem esgalhadas, tiveram já bastante publico, que correspondeu entusiasmado.

Eis o primeiro momento alto do dia. A mulher do fim do mundo, título do álbum lançado em 2015, brasileira de sangue na guelra, Elza Soares sobe ao palco Super Bock perto das 18:45 para nos brindar com uma mistura de samba, bossa, e uma fina camada de electrónica a dar-lhe um toque contemporâneo. Sentada num trono, com um manto, como se de uma rainha se tratasse, a brasileira deu os parabéns a Portugal, cantou, encantou, reinou verdadeiramente no Parque da Cidade. Fantástico!

Passamos à frente os americanos Wand no palco . às 19:00, no que seria a segunda visita aos sons do rock psicadélico mais suave para nos concentrar-mos nos um pouco mais agressivos The Growlers no palco NOS quando pouco faltava para as 8 da noite. Enérgicos, dançaram e pularam em cima do palco quase tanto como a muita gente que assistia ao desfilar das canções de City Club, o álbum que serve de suporte ao concerto. Muito bom.

Entretanto, no palco . os Shellac, banda americana de hardcore, começam a largar electricidade a rodos. Pouco passa das 20:30 quando as distorções da guitarra ecoam por cima das linhas de baixo possantes e da endiabrada bateria do trio. Poderosos, mas nós tínhamos marcado encontro com outra surpresa.

21:00, talvez uns minutos após, eis no palco Pitchfork a singela figura de Mitski. Fugidia, quase envergonhada por estar ali, a cantora, nascida no Japão mas que cresceu pelo mundo, acabando radicada em New York, fez-se enorme com o seu indie-folk suave, com letras que nos tocam, de uma forma ou outra. Elogios à comida portuguesa, entre outros, intercalam músicas quasi-universais, que assentam como uma luva à voz da artista. Outra boa surpresa.

À mesma hora (outra vez as decisões) havia começado o espectáculo de Sampha no palco Super Bock, mas ainda não foi desta que apreciamos ao vivo a soul electrónica do britânico. Melhores dias (e horários) virão.

E agora, mais decisões. Hip Hop do mais cru e agressivo com os Death Grips no palco . às 22:00 ou uma pop mais dançável e suave com os Metronomy no palco NOS às 22:10? Ficamos pelo palco principal, com um misto de pena e alegria, tendo a ultima tomado o controlo mal começamos a ouvir os ritmos debitados por Joseph Mount e companhia.

Com uma selecção generosa de singles de batida contagiante, não foi difícil pôr o recinto a bater o pé ao ritmo de The Look ou Love Letters. Com os elementos a trocar de funções várias vezes, não houve lugar à monotonia, nem em palco, nem na relva. Um concerto que, apesar de não ter tanta gente como Bon Iver no dia anterior, levou a muito mais movimento dançante.

Saltamos a apresentação de Weyes Blood às 22:30 no palco Pitchfork, aproveitando para forrar o estômago, que tantas horas a festivalar também gastam energias, e em seguida fomos espreitar o palco Super Bock e os canadianos Japandroids, que desde as 23:20, e durante a sua poderosa prestação não se cansaram de afirmar a sua diferença para com os U.S.A.: “We are Japandroids, from Vancouver, British Columbia, Canada!”. O duo esteve endiabrado, com a guitarra distorcida a levar a energia necessária para provocar muito mosh e algum crowd surf à muita assistência em frente ao palco.

Com a electricidade gerada pelos rapazes do grande norte selvagem, passámos à frete os The Make-Up que estavam marcados às 23:30 no palco ., e também pouco vimos dos Operators no palco Pitchfork, às 00:00, mas o suficiente para perceber que faltava qualquer coisa ali para nos prender.

Sentíamos um misto de ansiedade e de apreensão com a anunciada presença ao vivo de Aphex Twin, o produtor, DJ, compositor e aclamado mestre da música electrónica. Com os anos de carreira a passar dos 30, com a variedade de estilos e experiencias por onde já se movimentou, era uma incógnita o que se iria passar. E o que se passou foi uma multidão de sensações a assolar-nos durante quase 2 horas. Mas nem todas boas. Uma primeira parte totalmente experimental, desconstruída, minimalista, a raiar o infernal, deixou muita gente, eu incluído, estupefacta. Sem batida, sem uma melodia descortinável, apenas uma sucessão de alterações sonoras, de filtros e impulsos. Depois, techno e trance. Forte, agressivo, as batidas sucediam-se a uma velocidade estonteante, ajudadas pelo visual, lasers, écrans de caras distorcidas, caras essas de membros do público em directo, alteradas pelo som. Para terminar, mais uma parte de experimentalismo, ainda que menos minimal e numa espécie de epílogo do mais desconcertante espectáculo desta edição do festival.

Quem não foi sugado para o turbilhão eletrónico experimental passou pelo palco . para ver The Black Angels, que começaram bem para lá da marcada 1 da manhã, o que neste festival quer dizer 1:15, vá… A banda deu um concerto em crescendo, mas não o suficiente para ser marcante.

Já à 1 e 20, no palco Pitchfork, os Against Me! deram um concerto bastante bom, com um rock a passar pelo punk sem se afastar muito de sonoridades pop, uma mistura que até não soa mal, e que tanto nos põe de braços e telemóvel no ar, como a bater fortemente o pé no chão.

E por fim, pelo menos para nós, a melhor surpresa da noite. Não conhecíamos os Tycho, mas agora não há volta a dar. A tocar às 2:45 da manha o seu som ambiental ao vivo, no palco Pitchfork, foi como se já estivéssemos a sonhar, como se fosse a hora de acalmar, de por o bater do coração no ritmo normal dos dias. Mas não foi assim, o coração batia meio descompassado, fruto do sensacional concerto dos americanos, que fecharam com chave de ouro este NOS Primavera Sound.

Depois ainda houve tempo para as actuações de Bicep e Marc Piñol, mas a essa hora já nos tínhamos feito à estrada, que ainda havia algum caminho a percorrer até podermos efectivamente sonhar com o NPS 2018, que a organização já confirmou para dias 7, 8 e 9 de Junho do próximo ano.

Em jeito de balanço, uma muito boa edição do festival portuense, com a produtora a afirmar ter tido cerca de 90 mil almas durante os 3 dias, e também a informar que sexta tinha esgotado, com 30 mil pessoas no recinto. Ficou a promessa de não passar esse número para não criar constrangimentos no recinto do festival.

O NOS Primavera Sound regressa ao Parque da Cidade nos dias 7, 8 e 9 de Junho de 2018.

 

Edição de Joana Rita

Pedro Gama  

Amante de fotografia, computadores, carros antigos, lê avidamente, como se respirasse livros. Gosta de musica e cinema, mas não tem tempo (€) para ir a todos os eventos que gostaria. Vai escrevinhando umas coisas enquanto trabalha e estuda Literatura Inglesa...


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