Fãs esgotam Lisboa ao Vivo para ver Xutos dar (n)o Duro
No dia em que o 14º álbum de estúdio de Xutos & Pontapés chega às lojas e plataformas de streaming, a família Xutos esgotou o Lisboa ao Vivo para festejar 40 anos de rock “Puro e Duro”.
Numa assumida brincadeira de palavras e conceitos, Duro, álbum preto, sucede a Puro, álbum branco, lançado em 2014. Para além do intervalo de quase cinco anos, a separá-los há anos de luta ao lado de Zé Pedro a que se junta o luto após a sua partida. Com a morte do carismático guitarrista, para muitos “o homem do leme” da banda, o fim do projeto nunca esteve em causa, mas muitas foram as interrogações de como prosseguir. A opção de Tim, Gui, Kalu e João Cabeleira foi pela continuidade do projeto sem o Zé. Antes mesmo da sua partida muitos foram os concertos em que este não pode estar presente. Assim, sabia-se que a banda tinha as ferramentas necessárias para continuar sem a presença física de Zé Pedro e a opção acabou por ser a não substituição do guitarrista.
Após uma digressão por todo o país em que a homenagem a Zé Pedro foi uma constante, quer através de referências ao homem e ao músico, quer com a presença da sua imagem em palco, os quatro cavaleiros iniciaram a digressão do novo trabalho num cenário despido, onde pontua o negro, contrastando com o vermelho das guitarras e habituais apontamentos da indumentária como o já lendário lenço de Tim.
Duro compõe-se de nove temas originais, alguns dos quais foram sendo rodados nos concertos anteriores a este lançamento e conta com a colaboração de Carlão, que canta em Duelo ao Sol, Vicente Santos; Teclas em Às Vezes e Espanta – Espíritos, Manuel Paulo Felgueiras – Piano Órgão em Mar de Outono, Patrícia Silveira e Patrícia Antunes – Coros em Sementes do Impossível, João Martins- Percussão em Fim do Mundo e Duelo ao Sol e ainda Capicua– voz em Imprevistos, e Jorge Palma– voz e piano, no mesmo tema. Das nove canções, dado Capicua e Palma não estarem presentes, apenas Imprevistos não foi tocada ao vivo. Ainda assim os cerca de mil e cem fãs que transbordavam a sala, puderam ouvir o tema em que a música da banda e a voz de Tim são complementados com as vozes da rapper portuense, a abrir o tema e de Jorge Palma que nos conta uma história de um grande susto que apanhou lá para os lados dos Açores.
No palco do Lisboa ao Vivo, com a banda que anda há quatro décadas a “dar no Duro”, estiveram Carlão, Manuel Paulo e Vicente Palma para uma noite de reencontro e festa pós-luto. A continuidade do projeto parece estar mais que assegurada e se é verdade que podemos discutir se há ou não ainda espaço para a inovação, a recetividade dos fãs ao novo álbum é inegável.
No grande ramalhete de canções – vinte e seis temas se contarmos com o “enlatado” Imprevistos, os temas do novo trabalho desfilaram ao lado dos muitos clássicos da banda, muito bem acolhidos pelo público, que já conhecia boa parte deles.
Neste serão de celebração não conseguimos destacar um momento alto já que o ânimo esteve sempre muitíssimo elevado, desde a entrada dos espectadores, quase sempre em grupos devidamente identificados com a respetiva t-shirt compostos de inúmeros “Se me amas” e largas dezenas de “Xutos’ 1000” – o projeto de um grupo de admiradores que há um ano teve a ideia de juntar mil admiradores e tocar em conjunto uma das suas músicas – até ao final do concerto, mais de duas horas depois com a inevitável Casinha.
Claro que sabemos que se tratavam de seguidores fiéis de há muitos anos a que se juntaram já filhos, começando a aparecer netos; claro que não ignoramos que para os presentes ‘Xutos’ é sinónimo de ‘excelente música’ e, para a esmagadora maioria, Xutos & Pontapés são a incontestável ‘melhor banda portuguesa’, mas as provas estão mais que dadas e o casamento dos quatro músicos encaminha-se para umas saudáveis bodas de ouro.