Em casa, em Lisboa – Dead Combo no Teatro da Trindade, a reportagem

Em casa, em Lisboa – Dead Combo no Teatro da Trindade, a reportagem

Há música no Trindade. O Teatro da Trindade recebeu uma mão cheia de artistas entre os dias 23 e 28 de Julho e voltará a encher-se de música no mês de Outubro. Estivemos lá no dia 27, para receber de braços (e alma) abertos o regresso dos Dead Combo aos palcos da capital. Entre títulos como “Dead Combo apresenta A Bunch of Meninos” e “Dead Combo – Música com Lisboa lá dentro” pouco ou nada faria prever o espectáculo a que assistiríamos.

Naquela que foi a primeira de duas noites dedicadas aos Dead Combo, a sala foi enchendo gradualmente e com o aproximar da hora marcada notava-se uma ansiedade muda crescente nos presentes, como se de um reencontro há muito esperado se tratasse. Apagaram-se as luzes da sala, Pedro Gonçalves entra em palco e senta-se ao piano, iluminado por um único foco de luz. Percebemos de imediato que este seria um espectáculo intimista, nós, os Dead Combo e Lisboa. Nos temas que se seguiram, e para completar este duo dinâmico, vemos aparecer uma cartola… ou direi antes aquela cartola, que em conjunto com a guitarra se tornara já imagem de marca de Tó Trips.

Cedo ouvimos a voz rouca de Tó Trips agradecer a presença de todos no Teatro Trindade e agradecer sobretudo o facto de tanta gente “aturar os Dead Combo e a sua música.” Mais do que um concerto e uma viagem pela sua já robusta discografia, esta noite foi um partilhar de momentos e de histórias. O espectáculo ganhou um ritmo próprio e a cumplicidade dos músicos com o seu público foi sempre crescendo, até mesmo com os convidados de Pedro e Tó: Bruno Silva na viola, João Marques no trompete e Mick Trovoada na percussão. Em conjunto com a iluminação e projecções escolhidas a dedo, todos foram peças fundamentais para que se construísse esta performance.

Revisitou-se e, acima de tudo, renovou-se a história desta dupla, que tão bem nos demonstra que a voz pode muitas vezes ser um mero adereço. Se os instrumentos tivessem vida própria era exactamente assim que nos falariam. Com uma simplicidade que lhes é tão natural ouvimos Pacheco, Povo Que Cais Descalço e Dona Emília entre histórias do bairro do lado, notas sobre turistas e algumas recomendações sobre bares a frequentar e suas respectivas bebidas. Assim não nos faltou o Rumbero (ou rum bera), as Miúdas e Motas e nem mesmo o típico cafezinho.

Estes “Lusitânia Playboys” reservaram parte do seu tempo para uma serenata à família, num momento acústico em que tocaram duas músicas dedicadas às suas filhas. A favor deles fica o facto de nos conseguirem apresentar um dos poucos espectáculos em que não se trata daquela pessoa ou daquele tema, mas sim da sua sonoridade, criada com base numa verdadeira parafernália de influências e instrumentos. Sem darmos conta do tempo passar, houve um encore onde nos mostraram o que acontece quando, por mero acaso, se cruzam com “Queens of The Stone Age a tocar num daqueles rádios antigos, na cozinha de um restaurante indiano na Graça, onde o chef veste uma t-shirt de Iron Maiden”: a cover de Like A Drug.

Os Dead Combo perguntaram ainda à nossa Lisboa Mulata se A Menina Dança e não esqueceram Esse Olhar Que Era Só Teu. Já nós não esqueceremos esta noite tão depressa e ficámos com a certeza de que há músicas, e músicos, que trazem mesmo Lisboa dentro delas(es).


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