Aquela noite épica do costume – David Fonseca no Coliseu de Lisboa

Aquela noite épica do costume - David Fonseca no Coliseu de Lisboa

Seis anos depois da última passagem pela emblemática sala de Lisboa, David Fonseca celebrou esta quarta-feira 20 anos de carreira musical com estrondo. Uma noite cheia de surpresas, convidados e muita festa.

Nunca sabemos o que esperar de um concerto de David Fonseca porque tudo pode acontecer. E mesmo perfeitamente cientes deste facto, somos surpreendidos à primeira nota da primeira canção. Começar uma noite destas com um tema como Superstars II deixa logo claro que ninguém está aqui com rodeios. Se é para celebrarmos a carreira do músico leiriense então que o comecemos a fazer desde já, com aquele mítico assobio. E se é para fazermos a festa então que venha a electrizante Silent Void para que nenhum osso fique por mexer em toda a sala. Mas calma, falta qualquer coisa, não pode ser só acelerador: que entre Someone That Cannot Love. De seguida e praticamente sem pausas para que se afinem desde já as vozes. Feito, venha de lá essa noite que já se adivinha épica.

Não é fácil apontar momentos altos, foram demasiados. Quando Manuela Azevedo, dos Clã, sobe ao palco para dividir Futuro Eu o resultado é explosivo, por isso a seguir entrega-se a Muda de Vida para que todos possamos suspirar com saudades dos Humanos e de Variações. Já Camané deu voz ao refrão assombroso de Hoje Eu Não Estou para logo depois pôr tudo a dançar com Maria Albertina. Um concerto de David Fonseca pode ser uma constante celebração – este, por razões óbvias, foi-o ainda mais -, mas há um fio condutor muito bem trabalhado que permite estas viagens às vezes alucinantes. Como tocar a afável Kiss Me, Oh Kiss Me antes de uma U Know Who I Am belíssima, a voz e guitarra e a sala inteira a acompanhar num coro imenso. Como ter sintetizadores loucos em What Life Is For mas calar a sala para uma Eu Não Sei Dizer difícil de descrever. Ou voltar aos Silence 4, trazer Sofia Lisboa ao palco para juntos trocarem sorrisos enquanto cantam uma canção triste – Borrow, claro. E por falar em trocar sorrisos – já não se vêem duetos sentidos como aquilo que presenciamos em Hold Still, quando Rita Redshoes voltou a pisar o palco ao lado de David Fonseca.

Mesmo nos novos temas de Radio Gemini a performance não se perde, não há momentos mortos e tudo encaixa no longo percurso do músico. Find Myself Again e Resist (com Alice Wonder) foram aperitivos para a quasi-esquisófrenia de Tell Me Something I Don’t Know (strobe lights e belly dancers – é preciso mais alguma coisa?). Sim, tragam o Bruno Nogueira, por favor. Ora então não seja por isso, que venha o humorista cantar Ela Gosta de Mim Assim. E, já agora, um solo no meio da plateia, pode ser? Então mas é para isso que há Stop 4 a Minute, um dos temas mais intensos da noite. Faltava uma versão de uma canção icónica dos anos 80, por isso que venha I Just Can’t Get Enough (dos Depeche Mode) para que quando The 80’s entrar já esteja tudo em festa. Mais confettis, mais bolas insufláveis a saltitar nos braços da plateia. O costume, portanto.

Para o último encore, na recta final de um concerto extenso e intenso, David surge no meio da sala, de lanterna ao alto a entoar a lindíssima Song To The Siren (de This Mortal Coil) num momento arrepiante, antes de fazer rewind até às canções do primeiro disco dos Silence 4.

É incrível como uma brincadeira tão pequena chegou aqui passado tanto tempo. Obrigado do fundo o meu coração

, disse, antes de fechar a noite ao tom da alegre Oh My Heart. Podia ser uma brincadeira ao início, mas hoje David Fonseca é um dos mais completos artistas nacionais capaz de continuar a inovar e surpreender sem perder a identidade. Pode navegar por vários mares musicais mas é aqui, em palco, que mais o sentimos em casa, e ainda bem. Surpreendentemente, voltou a surpreender-nos. Não lhe podíamos pedir mais.

Teresa Colaço  

Tem pouco mais de metro e meio e especial queda para a nova música portuguesa. Não gostava de cogumelos mas agora até os tolera. Continua sem gostar de feijão verde.


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