Anastacia na dose certa no Campo Pequeno: nem diva nem a divagar

Anastacia na dose certa no Campo Pequeno: nem diva nem a divagar

2022 fica marcado como o ano do regresso efetivo aos festivais, concertos e digressões e Anastacia não foi exceção ao fazer as nossas delícias com a “I’m Outta Lockdown Tour” a passar na quinta-feira, 15 de setembro, pelo Campo Pequeno, em Lisboa.

2022, não tivesse já razões de sobra para ser especial, também marca a capicua dos 22 anos de carreira da cantora e compositora americana. Precisamente por isso, este concerto teve características de festival apresentando-nos um quase “best-of” tão, mas tão desejado e celebrado pelos fãs portugueses – e são muitos! Afinal, de 30 milhões de discos vendidos em todo o mundo, uns quantos estarão por terras lusas.

A festa começa quando ouvimos a tocar American Woman de Lenny Kravitz – a forma escolhida por Anastacia para se anunciar. O som não é o melhor de início, mas lá recupera, apesar de, na reta final, a própria se ter queixado de que estaria a ficar sem monição. Com a pandemia, o encerramento de muitas empresas e produtoras de áudio e consequente despedimento de centenas de profissionais que tiveram de seguir outro rumo na vida, tem sido frequente levantarem-se questões deste género.

Mas vamos ao concerto. Not That Kind, Freak of Nature e Paid My Dues deixaram bem claro o foco da noite: ia ser de celebração de início de século (de 2000 a 2001 nesta fase). Com um Campo Pequeno preparado com lugares sentados, alguém se terá esquecido que Anastacia não é propriamente uma baladeira, ainda que os temas seguintes (Cowboys & Kisses e Overdue Goodbye) fizessem acender os telemóveis.

Estrela pop-soul da velha guarda (sprok, como ela própria inventou), tem algumas baladas de cortar o coração, sim senhora, mas que se fundem com números de dança com igual dose de “girl-power” como One Day in Your Life e Sick and Tired. O grupo de quatro bailarinos esteve sempre em alto desempenho com coreografias simples, mas bem executadas e muito enérgicas.

Chega o momento do espetáculo em que Anastacia apresenta a banda de onde se destaca uma figura feminina na bateria. “Demorei 22 anos a encontrar-te, rapariga!”, diz, divertida, e em grande cumplicidade com a jovem.

Dá-nos Why’d You Lie to Me, brinca com um bailarino a que chama de “mintirozzo naughty boy” e rimos. Ela é tão genuína, tão sem tiques de vedeta, que nem vale a pena grande show à volta do que faz de forma soberba: cantar.

Com tudo isto, quase nos esquecemos que está aí o sétimo registo de estúdio da artista, Evolution, o sexto a chegar ao Top 10 da tabela de álbuns Reino Unido. Mas, efetivamente, não é ele que é notícia no dia a seguir ao concerto em Portugal, que podia ter tido um bocadinho mais de “cenário”. Já sabemos que Anastacia se apresenta assim: crua e sem surpresas de última hora. Mas, além dos quatro “looks” com que subiu ao placo (a saia vermelha era tãaaaao linda!), não houve outros efeitos visuais a abrilhantarem a atuação.

Vigor é bem capaz de ser a palavra-chave que Anastacia usaria para se descrever (se só pudesse usar uma). E humor… “Repararam que não há merchandise meu aqui à venda? Pois é… a empresa que trata disso é inglesa, a rainha faleceu e… olhem, pronto… Mas eu estou aqui, ok? Vá, passem pelo meu site que está lá tudo”, brinca e ri também.

Se são as subtis cantiguinhas acompanhadas só a guitarra que estão na moda, então Anastacia é uma vintage do bom entretenimento e ainda a passar aquela imagem de pessoa com bom coração, como alguns fãs relatavam à entrada: “parece mesmo boa pessoa, ‘tás a ver?”.

Sim, só pode ser boa pessoa, porque depois da versão de Sweet Child O’Mine, dos Guns n’Roses, que nos entrega, só uma boa pessoa arriscaria a versão de Best of You dos Foo Fighters. E a seguir nota-se que faz uma pausa de emergência, quando já começava a sua Stupid Little Things. Pede para parar a música: “please, stop, guys I’m serious”; senta-se por uns instantes e pede-nos desculpa porque o esforço desta incursão por um rock mais poderoso parece ter exigido demais desta guerreira. Ou terá sido a emoção da partida de Taylor Hawkins…? Querida e divertida, recupera rapidamente e continua a brilhar.

Há cerca de um ano, Anastacia participou e venceu a versão australiana do concurso “The Masked Singer”. Ali percebemos porquê. Nada que exija voz a assusta.

Sim, o mundo ainda tem algumas outras grandes vozes de pé. Mas conseguem imaginar uma Mariah Carey a dizer com toda a graça do mundo “I am super calor?”. Uma Adele a atuar de blusão de ganga? Nops, não estou a ver.

O poder vocal que atinge em canções como Left Outside Alone e I’m Outta Love (as duas do encore) dão-nos uma tareia tal que há quem fique siderado a olhar para o palco mesmo que até ao refrão estivesse a cantarolar tudo certinho e dançar nas escadas.

No sábado, esta “american woman” fez 54 anos. É muita energia. Positiva e forte.

Daniela Azevedo  

Jornalista, curiosa sobre os media sociais, viciada em música, gosta da adrenalina do desporto motorizado. Amiga dos animais e apreciadora de dias de sol. Acha que a vida é melhor quando há discos de vinil e carros refrigerados a ar por perto.


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